SOMOS
TODOS FEITOS DE BARRO
Muita gente tem uma ideia errada da humanidade de
Jesus. Acham que ele era um tipo de super-homem. Alguém que não podia sentir
dores, cansaços, tristezas, angústias, indignações e aflições. Nada mais
diferente do que vemos nas páginas do Novo Testamento (Mc 10.14; Jo 11.35; Mt
26.37-38). Pior ainda é o erro que se tem da sua própria humanidade. Muitos
cristãos advogam um triunfalismo exagerado onde a dor, decepções, angústias,
crises e problemas não podem acontecer em hipótese alguma.
Em alguns lugares não se pode falar de fraquezas
e fragilidades inerentes da condição humana. Só se pode falar de bênçãos e
vitórias, como se isso fosse a regra e não a exceção. Jesus, no entanto, não
fingia sentimentos, Ele disse em certa ocasião: “...A minha alma está
sofrendo dor extrema, uma tristeza mortal. Permanecei aqui e vigiai junto a
mim” (Mt
26.38 – KJV). Será que quando alguém lhe pergunta como está você já disse algo
parecido?
Cristãos que vivem de triunfalismos de domingo à
noite não conhece de fato o Evangelho de Cristo. Essa espiritualidade dominical
que não se sustenta no dia seguinte gera frustrações, tristezas e angústias
que, muitas vezes, têm que ser abafadas e ignoradas na solidão de seu quarto
até o fim de semana seguinte. Não precisamos fingir que somos sempre fortes.
Cristo não o fez. E por que fazemos?
Hoje parece até pecado falar
das fraquezas, como assim fazia o apóstolo Paulo, que entendia que a Graça de
Deus se aperfeiçoa nas fraquezas inerentes do ser (2Co 12:7-10). Ou como
numa música de Anderson Freire, cantada por Bruna Karla: “Sou humano, não consigo ser perfeito...” Graças a Deus que somos
humanos, feitos de barro, apesar de que muitos se consideram de ouro. “Temos, porém, esse tesouro em vasos de
barro, para demonstrar que este poder que a tudo excede provém de Deus e não de
nós mesmos” (2Co 4.7). Somos todos feitos de barro...
O que dizer dos líderes cristãos de hoje? Muitos tentam ser
o que, de fato, não são. Alguns se acham superpoderosos, perfeitos, acima da
humanidade. Não aceitam sua própria condição humana. Acham-se blindados,
invulneráveis. Alguns acham que nem adoecer podem...
Muitos
que advogam uma condição sobre-humana, irrealizável e impossível, vivem com a
alma cheia de culpa, medo e dúvidas, simplesmente por negar aquilo que é óbvio:
somos seres humanos, sujeitos a tudo debaixo do sol. Lembre-se do que disse o
próprio Jesus: “...Neste mundo tereis
aflições” (João 16.33b). É um fato! Contudo, Ele continua: “Mas, tendes bom ânimo!”. Aflições,
tribulações, problemas, sempre virão. Mas podemos suportá-los porque: “...não temos um sumo sacerdote que não seja
capaz de compadecer-se das nossas fraquezas...” (Hb 4.15).
É
uma desgraça ser, ou querer ser, um super-herói. Bom mesmo é reconhecer suas
limitações, imperfeições e fraquezas. O apóstolo Paulo entendeu isso muito bem.
Ele não queria ser visto como alguém inviolável, perfeito em todas as coisas,
um ser sobre-humano, um superapóstolo, como alguns hoje se julgam (2Co 12.6, 10).
Textos como esse nunca serão pregados em muitos púlpitos modernos. Sentir-se
fraco não traz ibope hoje em dia. Paulo, entretanto, sabia que: “Aquele que
se gloria, glorie-se no Senhor” (2Co 10.17). Infelizmente muitos gostam de
ser adorados...
Se o próprio Cristo não negou nem fingiu sua
humanidade, devemos fazer diferente? Somos melhores que Ele? Como nos lembra o
filósofo Mário Sérgio Cortella: “A maior vulnerabilidade é sentir-se
invulnerável”. Ou como disse Freud: “Somos feitos de carne, mas temos
que viver como se fôssemos de ferro”.
Antônio Pereira Jr.
oapologista@yahoo.com.br
SOLI DEO GLORIA NUNC ET SEMPER
(Somente a Deus damos a glória agora
e sempre)