FILHOS: A OBEDIÊNCIA E
PROMESSA NA ESFERA DO PACTO
A vontade de Deus é que devamos obediência e
respeito a todos os homens investidos de autoridade, especialmente aos nosso
pais (a única exceção é quando os homens quebrarem os princípios da palavra,
daí não somos obrigados a obedecer conforme ao que ensinou o apóstolo Pedro em
Atos 5.29). A família, no entanto, apesar de ser uma instituição divina,
não está isenta da falta de obediência de alguns. Os pais, desde cedo, devem
exercer autoridade sobre os filhos. Lembrando que autoridade não é
autoritarismo imposto. A Bíblia diz que há uma relação de obediência dos filhos
em concordância com as obrigações paternas colocadas por Deus, ordenando que os
pais também não podem ficar provocando à ira dos filhos (Ef 6.1,2).
A sociedade
moderna tem sofrido enormes e profundas alterações, muitas delas de forma
negativa dentro da família. O relacionamento familiar está cada vez mais
difícil de lidar. Como família do Pacto devemos observar o que a Palavra diz
para que possamos ser, senão uma família perfeita (embora seja impossível uma família que não cometa erros), sejamos
uma família feliz e abençoada. Quero convidá-lo a examinar comigo, embora de
forma sucinta, o que podemos aprender sobre esse importante assunto da
obediência dos filhos na esfera do Novo Pacto.
I – O PARADIGMA DA FAMÍLIA MODERNA
Como falamos na introdução, hoje em dia é um
grande desafio viver em família. Mas quando não o foi? Não se fazem mais filhos
como antigamente – já ouviu isso alguma vez? Pode até ser, mas também
não se fazem mais pais como antigamente. Para o bem e para o mal todas as
gerações tiveram suas exigências. Ser pai numa sociedade pluralista e
relativista como a nossa é um grande desafio, bem como, ser filho nessa época
requer também suas agruras e preocupações. Segundo Hernandes Dias Lopes, por
exemplo:
Quando Paulo escrever essa carta aos efésios, estava em vigência no
Império Romano o regime do ‘pater postestas’. O pai tinha direito absoluto
sobre o filho: podia casá-lo, divorciá-lo, escravizá-lo, vende-lo, rejeitá-lo,
prendê-lo e até mesmo matá-lo (Hernandes
Dias Lopes – Comentário aos Efésios –
Igreja, a noiva gloriosa de Cristo. p. 161).
Já imaginou os pais com essa autoridade nos
dias hodiernos? Claro que hoje em dia um outro extremo se estabeleceu: quem
manda agora são os filhos. Eles é que determinam horários, preferências e
regras gerais. Esta geração, talvez, seja a mais desobediente de todas – claro
que estou exagerando, mas em muitos casos o é. Nada novo, pois o apóstolo Paulo
já advertiu que nos últimos dias haverá homens: “amantes
de si mesmos, avarentos, presunçosos, soberbos, blasfemos, desobedientes a pais
e mães...” (2Tm 3.2).
Paulo, em Efésios 6, ensina que quem é de Cristo
vai de contramão ao sistema mundano que troca a obediência por rebeldia. Um
filho genuinamente convertido tem que ser obediente e saber honrar seus pais. E
essa transformação só quem faz é o Evangelho. Um filho obediente com certeza
será um espelho para àqueles que estão debaixo do jugo do pecado e das
imposições sociais que estão fora dos princípios cristãos.
Para se ter uma ideia da seriedade com que Deus trata a questão da
obediência dos filhos, a penalidade aplicada a um filho desobediente e rebelde na
Antiga Aliança, era a morte (Deuteronômio 21:18-21). E se um filho amaldiçoasse
ou batesse em seus pais deveria ser morto por apedrejamento (Êxodo 21:15, 17;
Levítico 20:9). Se você é filho, agradeça a Deus por ter nascido no tempo da
Graça.
II – EXISTEM
DEVERES PARA OS FILHOS
No entanto, embora não estejamos vivendo a
rigidez da Lei com relação à desobediência dos filhos, aprendemos com Paulo que
não podemos fazer sempre o que queremos. Nem sempre gostamos do ônus, mas
sempre queremos os bônus. Existem deveres dos filhos com relação aos pais. Por
mais que os filhos não gostem, é um ensinamento bíblico claro.
Primeiro, é um princípio do Evangelho: “sede
obedientes aos pais no Senhor” (6.1). Os filhos devem obedecer aos pais
porque são, em primeiro lugar, servos de Cristo. Segundo, o filho deve obedecer
aos seus pais: “pois isso é justo” (6.1). Calvino diz que: “O
preceito: ‘Honra a teu pai e a tua mãe’, compreende todos os deveres pelos
quais a afeição sincera e o respeito dos filhos a seus pais podem ser
expressos” (João Calvino
– Comentário aos Efésios. p. 179). Lembrando-nos que a
desobediência é um sinal de uma sociedade decadente. Terceiro, porque está de
acordo com a vontade de Deus expressa na Lei: “este é o primeiro mandamento
com promessa” (6,2-3). Quarto, quem honra pai e mãe tem a promessa de
longevidade: “para
que tudo te corra bem e tenhas longa vida sobre a terra". (6.3).
O termo que Paulo usa
em Efésios para “filhos” é “tekna”, plural de “teknon”. Fala do descendente
imediato sem especificar sexo ou idade. Aparece cinco vezes nesta carta, mas só
em somente em 6.4 sugere criança ou adolescente. No entanto, pode se referir a
filhos em qualquer idade. Em suma, pessoas que deve assumir a responsabilidade
diante de Deus e de Sua Palavra (Ef 6.1). Pela graça de Deus um filho pode,
auxiliado pelo Espírito Santo, ser exemplo de obediência em qualquer família.
III – FILHOS, HONRAI!
A honra para com os pais é um mandamento. Não é uma concessão. É dever dos filhos honrarem seus pais. O apóstolo Paulo escreveu: "Honra a teu pai e a tua mãe (que é o primeiro mandamento com promessa), para que te vá bem, e sejas de longa vida sobre a terra" (Efésios 6:2-3). Mas, o que significa honrar aos pais? A palavra grega “honrar”, significa valorizar ou considerar altamente, ter em grande estima. Alguém pode obedecer sem ter os pais em grande estima, ou apenas para obter alguma vantagem. Os pais erram e nem sempre são dignos de serem honrados. Mas, para o filho da Aliança isso é o de menos. Ele honra aos pais independente dos erros destes. Honrando aos pais eles estarão horando a Deus. Os filhos honram a seus pais, nas coisas simples do dia-a-dia, como ajudar nas tarefas do lar, por exemplo. Mas também nas coisas mais complexas, como ser o cuidador dos pais quanto estes estiverem mais velhos conforme nos diz Provérbios 23.22: “Ouve a teu pai, que te gerou e não desprezes a tua mãe, quando vier a envelhecer". Ou seja, a honra deve ser por toda a vida. Como disse, só há um limite nessa obediência: se os pais quererem coisas que desagradam a Deus. Daí o filho não é obrigado a obedecer por causa da autoridade maior sobre eles.
Honrar também significa ajudar financeiramente, conforme nos diz o
apóstolo Paulo, usando a palavra honra num sentido financeiro: “Trate
adequadamente as viúvas que são realmente necessitadas. Mas se uma viúva tem
filhos ou netos, que estes aprendam primeiramente a colocar a sua religião em
prática, cuidando de sua própria família e retribuindo o bem recebido de seus
pais e avós, pois isso agrada a Deus”. E o verso 8 ainda diz: “Se alguém não cuida de seus parentes, e especialmente dos de sua
própria família, negou a fé e é pior que um descrente”. (1
Timóteo 5:3-4, 8).
O texto de Efésios é muito importante para uma vida de obediência:
“Filhos, obedecei a vossos pais no
Senhor, pois isto é justo" (Efésios 6.1). Como já falei a obediência
tem uma razão: “É justo”. Nunca esqueça disso. Paulo na epístola aos
colossenses vai dizer: "Filhos, em
tudo obedecei a vossos pais, pois fazê-lo é grato diante do Senhor" (Colossenses
3:20). E Salomão em provérbios exorta: "Filho
meu, ouve o ensino do teu pai e não deixes a instrução de tua mãe. Porque serão
diadema de graça para a tua cabeça e colares, para o teu pescoço"
(Provérbios 1:8-9). O que nos chama a atenção é que a obediência tem que partir
também de uma consciência dos filhos com relação aos pais, mas também dos pais
com relação aos filhos. É uma via de mão dupla. Não se obedece apenas por
obrigação ou imposição. Ela vem por ter a consciência do Evangelho e do Deus a
quem servirmos. Ou seja, os filhos também têm vontades que precisam ser
reconhecidas. E os pais também devem proporcionar um ambiente de amor e
carinho. Não os provocando à ira.
Por fim, na explicação da pergunta 54 do catecismo menor de Westminster, “Que exige o quinto mandamento?”, o autor (não identificado) diz o seguinte:
O quinto mandamento exige a conservação da honra e o desempenho dos
deveres pertencentes a cada um em suas diferentes condições e relações, como
superiores, inferiores ou iguais” (Ef 5.21,22; 6.1, 5, 9; Rm 13. 1; 12. 10).
Pais, no entendimento escriturístico e em consonância com a cultura de Israel,
não são exclusivamente os genitores, mas todos os que exercem algum tipo de
autoridade sobre a nova geração, especialmente a moral e a espiritual.
Governar, no sistema patriarcal e em regime teocrático, significava exercer o
poder paternal e sacerdotal sobre o clã. Foi, certamente, firmados em tal
princípio que os teólogos de Westminster ampliaram o conceito de paternidade
para que sua abrangência incluísse quaisquer autoridades superiores, por
natureza, por vocação e por ofício, aos comandados. O governo ditatorial é
incompatível com o patriarcal; o primeiro é imposto, o segundo emerge com a
família, o clã medular, fonte de origem, base preservadora e força mantenedora
da tribo. O chefe de estado e seus ministros, administradores da “família Dei”,
todos os ancestrais, sacerdotes, líderes tribais e familiares eram considerados
pais por ordenação divina e, como tais, respeitados, acatados e estimados.
Já o catecismo de Heidelberg traz a seguinte
resposta para a pergunta 104, “o que Deus exige no quinto mandamento”? E
a resposta é a seguinte:
R. Devo prestar
toda honra, amor e fidelidade a meu pai e a minha mãe e a todos os meus
superiores; devo submeter-me à sua boa instrução e disciplina com a devida
obediência (1), e também ter paciência com seus defeitos (2); porque Deus nos
quer governar pelas mãos deles (3). (1) Êx 21.17; Pv 1.8; 4.1; 15.20; 20.20; Rm
13.1; Ef 5.22; 6.1-2, 5; Cl 3.18, 20, 22. (2) Pv 23.22; 1Pe 2.18. (3) Mt 22.21;
Rm 13.2, 4; Ef 6.4; Cl 3.20.
Ou seja, além da obediência os filhos
também têm que ter paciência para com os defeitos dos pais. Nenhum pai é
perfeito, mas suas imperfeições não podem ser desculpa para a desobediência. Por fim, Jesus é o nosso grande exemplo de
obediência. Ainda que fosse o Verbo encarnado Ele foi submisso a seus
pais humanos. Ele os honrou em todas as formas (Lucas 2.51). E uma das grandes
verdades é que um filho que obedece, honra a seus pais, tendo Jesus como modelo
principal, têm vidas mais felizes e, o mais importante, estão agradando a Deus!
Pr. Antônio Pereira Jr.
(1ª Igreja Congregacional em Guarabira – PB).
E-mail: oapologista@yahoo.com.br
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