AVIVAMENTO OU AVILTAMENTO?
Estas
duas palavras são parecidas, porém, divergentes. Temos visto que, na igreja
hodierna, elas misturam-se na mente do povo de Deus. Infelizmente, muitos não
conseguem distinguir uma da outra. Deixe-me dar a definição de ambas.
John
Stott define avivamento ou reavivamento como: “... uma visitação
inteiramente sobrenatural do Espírito soberano de Deus, pela qual uma
comunidade inteira toma consciência de Sua santa presença e é surpreendida por
ela. Os inconversos se convencem do pecado, arrependem-se e clamam a Deus por
misericórdia, geralmente em números enormes e sem qualquer intervenção humana.
Os desviados são restaurados. Os indecisos são revigorados. E todo o povo de
Deus, inundado de um profundo senso de majestade divina, manifesta em suas
vidas o multifacetado fruto do Espírito, dedicando-se às boas obras” (A
verdade do Evangelho, p. 119).
Creio
que Deus pode, e frequentemente o faz, operar um grande reavivamento em nossos
dias para reavivar a igreja que está dia-a-dia descendo ladeira abaixo
empurrada pelo vento do modernismo, da falta de firmeza doutrinária, da
escassez de uma santidade impactuante e não legalista. E que isso, na
realidade, é necessário e urgente. A igreja precisa de reavivamento e reforma
doutrinária. Não obstante, muito do que se vê por ai não passa de descarado
aviltamento.
Já a
palavra “aviltamento” significa: vileza, desonra, ignomínia, descrédito,
vergonha. A maioria dos “avivamentos” que existem por ai não passa de
aviltamento. Verdadeira vergonha de um pseudo-evangelho, uma pseudo-salvação.
Verdadeira infâmia contra a santidade de nosso Deus maravilhoso.
Vários
períodos da história da Igreja pós-apostólica foram marcados por reavivamentos
maravilhosos, onde Deus usou soberanamente homens falíveis para uma proclamação
das verdades de um Deus infalível. Por exemplo: A Reforma Protestante (John
Wycliffe, Lutero, Calvino, Knox), Reavivamento Morávio (conde Zinzendorf), o
Grande Reavivamento do séc. XVIII (John Wesley, Charles Wesley e Jorge
Whitefield), Reavivamento Americano de 1725 e 1760 (Teodoro Fredinghuysen e
Jônatas Edwards), só para citar alguns.
Todos os despertamentos históricos foram marcados em
contraposição por desvios e abusos que tentaram passar por avivamento, mas que
nada mais eram que aviltamento. Gostaria de falar, em breves palavras, sobre o
que NÃO é reavivamento espiritual:
1. Reavivamento não é simplesmente agendar programações,
promover campanha evangelística, retiros, etc. O Espírito Santo de Deus age
como Ele quer e não segundo as nossas concepções e agendamentos humanos. “O
vento assopra onde quer, e ouves a sua voz, mas não sabes de onde vem, nem para
onde vai...” (João 3:8 a).
2. Reavivamento não é assistir “Louvorzão”. Realizar
encontros de jovens e reuniões de avivamento. Não é animação no culto. Participar
de uma “coreografia santa” não é reavivamento. Pessoas podem dar amém na hora
certa, levantar as mãos para o céu, chorar, cair, mas essas coisas não querem
dizer que haja verdadeiramente um mover do Espírito.
3. Reavivamento não é linguajar religioso. “Tome posse da bênção”; “Eu decreto”;
“Ta amarrado”. São essas as frases, dentre tantas outras, que os cristãos
brasileiros estão usando como mantras espirituais dentro das igrejas. O
linguajar tem que ser este. Quem não anda por essa cartilha é taxado de cru.
Isto é inconcebível.
4. Reavivamento não é praticar um
“pentecostalismo descompromissado”. Em Mt 7. 22 – 23 está uma advertência
séria com relação a práticas tão populares hoje. Veja o texto: “Muitos me dirão
naquele dia: Senhor, Senhor, não profetizamos nós em teu nome? E em teu nome
não expulsamos demônios? E em teu nome não fizemos muitas maravilhas? E então
lhes direi abertamente: Nunca vos conheci; apartai-vos de mim, vós que
praticais a iniqüidade”. Veja que “igreja” maravilhosa. Existia profecia: “não
profetizamos nós em teu nome?”. Existia exorcismo: “não expulsamos demônios?”.
Existiam curas e milagres: “não fizemos muitas maravilhas?”. Contudo, Deus os
reprovou! A advertência é séria: “Nunca vos conheci”. Em outras palavras:
“Vocês não são dos meus”. O problema é que essas pessoas irão descobrir isso
muito tarde. Espero que você não seja uma delas.
5. Reavivamento não é mudar os costumes. – Mt 23. O próprio texto de Mateus 23
é contundente. Fala por si. “Então falou Jesus à multidão, e aos seus
discípulos, dizendo: Na cadeira de Moisés estão assentados os escribas e
fariseus. Todas as coisas, pois, que vos disserem que observeis, observai-as e
fazei-as; mas não procedais em conformidade com as suas obras, porque dizem e
não fazem; Pois atam fardos pesados e difíceis de suportar, e os põem aos
ombros dos homens; eles, porém, nem com o dedo querem movê-los; E fazem todas
as obras a fim de serem vistos pelos homens; pois trazem largos filactérios, e
alargam as franjas das suas vestes, e amam os primeiros lugares nas ceias e as
primeiras cadeiras nas sinagogas, e as saudações nas praças, e o serem chamados
pelos homens; Rabi, Rabi. Vós, porém, não queirais ser chamados Rabi, porque um
só é o vosso Mestre, a saber, o Cristo, e todos vós sois irmãos. E a ninguém na
terra chameis vosso pai, porque um só é o vosso Pai, o qual está nos céus. Nem
vos chameis mestres, porque um só é o vosso Mestre, que é o Cristo. O maior
dentre vós será vosso servo. E o que a si mesmo se exaltar será humilhado; e o
que a si mesmo se humilhar será exaltado”. (v. 1-12). Conheço várias pessoas
que poderiam encaixar-se perfeitamente nessas advertências. Lembrem-se: “Ai de
vós, escribas e fariseus, hipócritas!”
6. Reavivamento não é mudar de teologia. As pessoas mudam de doutrinas como se
muda de roupa. Não existem raízes. São como uma folha seca levada pelo vento.
Basta surgir um propagador de bênçãos e ele estará lá. Não se questiona nada, o
importante é sentir. Chamo isso de “sensitividade herética”. Charles Spurgeon
já advertia a igreja a mais de cem anos atrás: “As pessoas dirão: ‘Gostamos
desta forma de doutrina e gostamos também da outra’. Mas o fato é este: eles
gostariam de qualquer coisa, desde que um enganador esperto lhes apresentasse
isso de uma maneira aceitável. Eles admiram Moisés e Arão, mas não diriam uma
palavra contra Janes e Jambres. Não devemos ser cúmplices daqueles que visam
criar esta mentalidade. Temos de pregar o evangelho de modo tão distinto que o
nosso povo saiba aquilo que estamos pregando. ‘Se a trombeta der som incerto,
quem se preparará para a batalha?’ (1Co 14.8). Tenho ouvido dizer que uma
raposa, que é perseguida muito de perto pelos cães, finge ser um deles e corre
com eles. É isso que alguns estão desejando agora: que as raposas pareçam cães.
Existem pregadores dos quais é difícil dizer se são cães ou raposas; contudo os
homens não podem ter dúvidas sobre as coisas que ensinamos ou cremos”. –
Charles Spurgeon. (1834 – 1892)
Spurgeon também dizia: “Nada há de novo na teologia. Exceto o
que é errado”. Ou seja, a teologia bíblica é aquela pregada por Paulo, Pedro,
João etc. São as “velhas doutrinas” que fazem bem a alma e salva o pecador.
7. Reavivamento não é algazarra eclesiástica. O que temos visto em muitos arraiais
não passa de algazarra eclesiástica. Há muito pulo, gritos, meneios, mas pouca
santidade prática. Pouco compromisso com a obra de Deus. Quase nenhuma intenção
de evangelizar os povos que ainda não ouviram o evangelho de Cristo. Ninguém
quer sair de suas cadeiras confortáveis para lugares inóspitos.
Isso me lembra uma velha fábula: “Era uma vez quatro pessoas
que se chamavam "Todomundo", "Alguém",
"Qualquerum" e "Ninguém". Havia um importante trabalho a
ser feito e "Todomundo" acreditava que "Alguém" iria
executá-lo. "Qualquerum" poderia fazê-lo, mas "Ninguém" o
fez. "Alguém" ficou aborrecido com isso, porque entendia que sua
execução era de responsabilidade de "Todomundo".
"Todomundo" pensou que "Qualquerum" poderia executá-lo, mas
"Ninguém" imaginou que "Todomundo" não o faria. No final da
história; "Todomundo" culpou "Alguém" quando
“Ninguém", fez o que "Qualquerum" poderia ter feito”. Pense
nisso quando tiveres que fazer algo na Obra de Deus.
8. Reavivamento não é crescimento do número de
membros. Penso
que um dos maiores problemas da igreja nesses últimos tempos é o inchamento de
livros de registro de membros. Pelo simples fato de que, na grande maioria das
vezes, colocam-se pessoas no rol de membros da Igreja local, quando ela não
pertence à Igreja Universal de Cristo. Hoje, mais do que nunca, as igrejas
estão cheias de pessoas não convertidas, o que gera uma igreja cancerosa,
morta, inoperante. Que Deus tenha misericórdia de nós.
AFINAL, O QUE CARACTERIZA O VERDADEIRO
REAVIVAMENTO?
Algumas marcas podem ser detectadas nos verdadeiros
reavivamentos trazidos por Deus através da história. Além das características
que John Stott nos apresenta em sua definição acima, gostaria de traçar alguns
breves e limitados pontos no que concerne ao verdadeiro reavivamento:
1) O verdadeiro reavivamento traz toda honra a Deus. A figura humana não aparece, Deus é
que é admirado. Os holofotes estão em Deus, em Sua pessoa, Seu caráter, Sua
santidade, Seu poder, Sua honra e Sua glória. O arbítrio humano dá lugar à
soberania divina. O homem reconhece que não passa de “um caco de barro no
meio de outros cacos” – Isaías 45:9
Edwards disse que: “nenhum avivamento ou experiência
religiosa é genuína se não realçar esse Deus sublime em sua soberania, graça e
amor”. Ele advertiu contra dois grandes erros no avivamento. Primeiro, o mero
emocionalismo. Segundo é dar ênfase não a Deus, mas às respostas humanas. O
reavivamento que não se preocupa com a glória suprema de Deus não é
reavivamento é aviltamento.
Alguns líderes quando estão falando de Deus, geralmente
procuram incutir na mente das pessoas aquilo que Deus jamais diria. Eles dizem:
“Deus vai fazer isso amanhã”; “No próximo culto Deus vai operar e vai batizar,
curar, etc”; “Vamos fazer uma semana de reavivamento e vocês irão ver Deus
fazendo maravilhas”.
Não estou dizendo que Deus não pode fazer, Ele faz o que
quiser e não pede licença ao homem. O que estou dizendo é que Deus não trabalha
de acordo com a agenda humana. Lamento informar, mas Deus não nos deu a Sua
agenda de amanhã, muito menos da semana que vem.
2) O verdadeiro reavivamento expõe as verdades antigas do
evangelho. Avivamento
sem retorno às verdades da Palavra de Deus não passa de aviltamento. Charles
Spurgeon certa vez disse o seguinte: “Nada há de novo na teologia, exceto o
que é errado”. Não há avivamento sem o desejo por entender e estudas a
Palavra.
3) O verdadeiro reavivamento leva os cristãos à profunda
santidade. Consequentemente
a Igreja cresce em quantidade e qualidade. A primeira não fica em detrimento a
segunda. É verdadeira mudança no comportamento.
4) O verdadeiro
reavivamento traz abertura, convicção, quebrantamento, confissão e
arrependimento do pecado. É
descoberta toda podridão do coração depravado do homem, ele sente a nojeira do
pecado e é levado a refugiar-se na graça de Cristo.
Grande parte dos cristãos de hoje não sabem nada sobre o
pesar do coração em contrição à santidade de Deus. Os puritanos falavam de
“agonizar
“Sonda-me, ó Deus, e conhece o meu coração: prova-me e
conhece os meus pensamentos; vê se há em mim algum caminho mau, e guia-me pelo
caminho eterno. Salmo” – 139:23,24.
5) O verdadeiro reavivamento traz uma nova vida à ação
missionária da Igreja. Reacende
a chama por missões. O amor ao perdido é reanimado pela ação irresistível do
Espírito Santo. Traz mudança na sociedade em que a Igreja está inserida.
Amados, tenhamos cuidado para não querermos “produzir
reavivamento” no intuito de agradar aos homens, granjear ovações e
considerações que não servem para nada, senão, para acariciamento do ego e
inchamento da nossa natureza carnal. Lembrem-se: “... uma visitação
inteiramente sobrenatural do Espírito soberano de Deus”.
Nenhum homem pode “produzir” reavivamento. Todo
“reavivamento” produzido pelo homem é, sem sombra de dúvidas, aviltamento.
Espero que você tenha sido abençoado por estas breves considerações.
Vigiemos para que nosso “avivamento” não se torne em
aviltamento a Deus, a quem devemos dar toda honra, toda glória e todo louvor.
Como nos diria João Batista: “Importa que Ele cresça e que eu diminua” – João 3:30
Clamemos como o salmista:
“Porventura, não tornarás a vivificar-nos, para que em ti se regozije o teu
povo?” – Salmo 85.6.