segunda-feira, 18 de março de 2019

A CONDIÇÃO DE SERVO


A CONDIÇÃO DE SERVO 

“Então, Josué disse a todo o povo [de Israel]: ( … ) Escolhei hoje a quem sirvais; ( … ) porém eu e a minha casa serviremos ao Senhor”. (Josué 24:2, 15)


Servir ao Senhor é uma realidade ou apenas uma desculpa esfarrapada dita da boca para fora? Nós, como cristãos, estamos de fato servindo ao Senhor? Ou qualquer aniversário, festa, compromissos pessoais, lazer, oportunidade de ganhar dinheiro ou qualquer outra coisa é mais importante do que adorar a Deus na beleza de Sua Santidade? Sempre falamos entusiasticamente quando lemos Josué 24, “Eu e a minha casa serviremos ao Senhor”; mas, até que ponto isso é uma verdade prática?

O que precisamos entender é que o serviço é algo que não podemos escapar. Somos salvos para servir. E servimos, mesmo sem perceber. A questão não é se vamos servir é a quem servirmos. Ou servimos a Deus e o seu Reino ou serviremos a nós mesmos. Simples assim. Não há escapatória. A realidade é que na maior parte do tempo servimos a nós mesmos, ou não é verdade? Nossos planos, projetos, tempo, dedicação é, quase sempre, para alimentar o Narciso que existe em cada um de nós.

Alguns dizem: “Não sirvo aos homens, sirvo a Deus”. Ora, à luz do Evangelho só servimos a Deus se servirmos as pessoas. E principalmente na igreja, independentemente de quem seja o líder, você deve em tudo trazer glória para Deus. Não há como divorciar isso. Quem é de Deus mostra o amor para com os outros, do contrário, será apenas um religioso tentando disfarçar seu orgulho e prepotência. Responda para si mesmo: você está horando a Deus com suas atitudes com seu próximo?

Paul Tripp já disse que: “Nossa vida é moldada pela batalha entre o reino de Deus e o nosso reino pessoal”. Não queremos, na maioria das vezes, submeter aos desejos e às necessidades de outros. O problema que surge é que não podemos obedecer a Deus e aos nossos interesses ao mesmo tempo. "Ninguém pode servir a dois senhores; pois odiará a um e amará o outro, ou se dedicará a um e desprezará o outro (...)”. Mateus 6:24.

A verdade é que sempre serviremos aquele que tiver a primazia no coração. Se, por exemplo, num domingo à noite escolhemos ficar em casa ao invés de adorar a Deus (Claro, tirando aqueles que não podem ir por enfermidade, trabalho ou outra situação justificável) isso é sinal de que Ele não é primazia para nós. Buscar o Reino de Deus em primeiro lugar, como jesus falou não tem lá tanta importância se posso ficar com a consciência tranquila no meu doce lar. Mas o chamado de cada cristão, do verdadeiro cristão, é servir a Deus como resposta de gratidão pela Graça do Evangelho. Quem são os servos na igreja que realmente estão servindo? E o mais importante: quais as suas motivações? Alguns gostam mesmo é da “apresentação” e “pavoneamento” público. Se não for para “me apresentar” por que devo ir – alguns pensam.

Penso que há uma imensa necessidade de pessoas para servir na igreja pelas razões certas. Deus não precisa, à priori, de ótimos músicos, excelentes pregadores, cantores afinadíssimos ou oficiais simpáticos, embora tudo isso seja necessário. Deus chama principalmente servos que sirvam por gratidão e amor sem olhar para si mesmos como Narciso embebido e apaixonado pela própria imagem. Afinal, o resultado de todo pavoneamento é a morte.

John Stott perguntava: “Quando os cristãos retomariam o ministério de todos os santos, no qual cada cristão exerce seus dons para ministrar aos outros”? Só há um objetivo no serviço: glorificar a Deus e engrandecer o Evangelho para o benefício dos outros. E se você é líder de algum departamento ou grupo, seu serviço é de maior importância e responsabilidade. Como querer que os seus liderados sirvam a Deus se você mesmo não tem o mesmo compromisso no Reino? Acho que devemos aprender com o Mestre que disse: “Porquanto quem é o maior: o que está reclinado à mesa, ou o que serve? Porventura, não é o que está reclinado à mesa? Contudo, entre vós, Eu Sou como aquele que serve” (Lucas 22.27).

Devemos ser mais importantes que nosso Senhor? Que Deus nos ajude. “Soli Deo Gloria Nunc Et Semper” (Somente a Deus damos a Glória, agora e sempre).

Vosso conservo: 
Pr. Antônio Pereira Jr. 
oapologista@yahoo.com.br

terça-feira, 31 de julho de 2018

VOCÊ É A POESIA DE DEUS



VOCÊ É A POESIA DE DEUS

Porque somos feitura sua, criados em Cristo Jesus para as boas obras, as quais Deus preparou para que andássemos nelas. 
Efésios 2:10


Amo poesias. Há quem não goste e até mesmo repudia um cristão apreciar poesias. Como se fosse pecado gostar do que é belo, daquilo que faz a alma sonhar. Religiosos chatos, pessoas intragáveis. Querem impor sua ideia de santidade àqueles que já são livres. Ou parafraseando Nietzsche: E aqueles que foram vistos dançando foram julgados insanos por aqueles que não podiam escutar a música. Detesto gente assim. Sinceramente, detesto do fundo da minha alma. Pecado detestar? Sim, confesso aqui meu pecado. Não sou perfeito. Muitas coisas eu detesto. Porém, acho mais pecado querer ser juiz da alma alheia. Gente que coa um mosquito e engole um camelo. 

Quem me conhece bem sabe que escrevo e leio vários gêneros. Mas é na poesia que me deleito. Na poesia me entrego de corpo e alma. Já escrevi um livro inteiro de poesias o “Gotas da Alma”. Tenho mais de 400 poesias inéditas esperando serem publicadas. Os poemas mostram geralmente o que é de mais belo dentro de nós. Eles traduzem sentimentos, sonhos, desejos e experiências vividas ou utópicas. Expõe de alguma forma a alma humana que não se acostuma com o trivial, com a monotonia e a realidade crua e nua. É querer sempre um morango gostoso mesmo que ainda não o tenha, mas que você deseja ter e como deseja.  

Amo Drummond, T. S. Eliot, Fernando Pessoa, Augustos dos Anjos, Florbela Espanca, dentre tantos. São escritores maravilhosos. No entanto, existe um poeta que está acima de todos eles: Deus. Isso mesmo, Deus é o maior de todos os poetas. Não está acreditando? Deixe-me explicar melhor. Em Efésios 2.10 existe a palavra feitura. Muitos não sabem o que ela significa ou pelo menos nunca teve a curiosidade de saber. No grego, a palavra “feitura” é “poiema”, e significava “manufatura”, “trabalho”, “obra de arte”, “poema”. Ela vem do verbo “poieo”, que é o mesmo que “poema ou poesia” ou aquilo que é fabricado, um projeto de um artesão. Ela foi usada para designar uma obra de arte poética.

Os cristãos são, portanto, poemas de Deus. O Eterno é o poeta e você é o poema, escrito por Ele para Seu deleite. Assim como um poeta se deleita em ver sua linda poesia, assim também é Deus quando olha para você. O mais incrível é que Ele se deleita em você mesmo sabendo o quando você é falho e imperfeito. Isso é o que chamamos de amor Ágape. Esse tipo de amor é ilimitado. Ele nos olha com um amor incondicional. É esse tipo de amor que o apóstolo Paulo fala que não tem fim, que jamais acaba. Concordo com Philip Yancey quando ele diz no seu livro “Maravilhosa Graça” que: Não há nada que você possa fazer para Deus te amar mais; e não há nada que você possa fazer para Deus te amar menos".

Não temos motivo para nos sentirmos tristes ou nos sentirmos diminuídos, cheios de autocomiseração. Você tem um Deus que te ama, que te entende, que te conhece, que cuida de você em qualquer situação. Se Deus é de fato seu pai, então você não está mais debaixo da ira dEle. Você está debaixo de Sua Graça, do Seu amor e da Sua misericórdia. Você é "Feitura de Deus" e nada pode mudar isso. A poesia foi escrita antes da fundação do mundo. E a tinta usada foi o sangue de Jesus. Sem Ele não passaríamos de rascunho sujo nas mãos do Diabo. Esse poema não depende do mérito humano, nunca dependeu, é sempre Graça de um Deus que nos ama apesar de sermos miseráveis pecadores. 

Não somos completos, perfeitos e acabados. Somos um poema reeditado todos os dias pelas mãos do hábil Poeta. Significando que a vida tem rima. Ela tem sentido. E ela pode ter mais sabor, mais beleza, apesar dos riscos a arranhaduras na alma. Não somos obras do acaso, da evolução. Somos obras de Deus! Somos uma linda poesia que saiu das mãos do Poeta Criador. Costumo dizer que poesia não se explica. Ou toca ou não toca. Ou ilumina a alma, ou não. Não há explicações, há sensações. Não tente explicar nada, apenas sinta e creia no amor de Deus por você. Portanto, você, poema de Deus, como está hoje? Sua alma está poesia?  


Pr. Antônio Pereira Jr.
(1ª Igreja Congregacional em Guarabira – PB).
E-mail: oapologista@yahoo.com.br

sábado, 7 de outubro de 2017

FILHOS: A OBEDIÊNCIA E PROMESSA NA ESFERA DO PACTO



FILHOS: A OBEDIÊNCIA E PROMESSA NA ESFERA DO PACTO


A vontade de Deus é que devamos obediência e respeito a todos os homens investidos de autoridade, especialmente aos nosso pais (a única exceção é quando os homens quebrarem os princípios da palavra, daí não somos obrigados a obedecer conforme ao que ensinou o apóstolo Pedro em Atos 5.29). A família, no entanto, apesar de ser uma instituição divina, não está isenta da falta de obediência de alguns. Os pais, desde cedo, devem exercer autoridade sobre os filhos. Lembrando que autoridade não é autoritarismo imposto. A Bíblia diz que há uma relação de obediência dos filhos em concordância com as obrigações paternas colocadas por Deus, ordenando que os pais também não podem ficar provocando à ira dos filhos (Ef 6.1,2).

A sociedade moderna tem sofrido enormes e profundas alterações, muitas delas de forma negativa dentro da família. O relacionamento familiar está cada vez mais difícil de lidar. Como família do Pacto devemos observar o que a Palavra diz para que possamos ser, senão uma família perfeita (embora seja impossível uma família que não cometa erros), sejamos uma família feliz e abençoada. Quero convidá-lo a examinar comigo, embora de forma sucinta, o que podemos aprender sobre esse importante assunto da obediência dos filhos na esfera do Novo Pacto.


I – O PARADIGMA DA FAMÍLIA MODERNA

Como falamos na introdução, hoje em dia é um grande desafio viver em família. Mas quando não o foi? Não se fazem mais filhos como antigamente – já ouviu isso alguma vez? Pode até ser, mas também não se fazem mais pais como antigamente. Para o bem e para o mal todas as gerações tiveram suas exigências. Ser pai numa sociedade pluralista e relativista como a nossa é um grande desafio, bem como, ser filho nessa época requer também suas agruras e preocupações. Segundo Hernandes Dias Lopes, por exemplo:

Quando Paulo escrever essa carta aos efésios, estava em vigência no Império Romano o regime do ‘pater postestas’. O pai tinha direito absoluto sobre o filho: podia casá-lo, divorciá-lo, escravizá-lo, vende-lo, rejeitá-lo, prendê-lo e até mesmo matá-lo (Hernandes Dias Lopes – Comentário aos Efésios – Igreja, a noiva gloriosa de Cristo. p. 161).

Já imaginou os pais com essa autoridade nos dias hodiernos? Claro que hoje em dia um outro extremo se estabeleceu: quem manda agora são os filhos. Eles é que determinam horários, preferências e regras gerais. Esta geração, talvez, seja a mais desobediente de todas – claro que estou exagerando, mas em muitos casos o é. Nada novo, pois o apóstolo Paulo já advertiu que nos últimos dias haverá homens: “amantes de si mesmos, avarentos, presunçosos, soberbos, blasfemos, desobedientes a pais e mães...” (2Tm 3.2).

Paulo, em Efésios 6, ensina que quem é de Cristo vai de contramão ao sistema mundano que troca a obediência por rebeldia. Um filho genuinamente convertido tem que ser obediente e saber honrar seus pais. E essa transformação só quem faz é o Evangelho. Um filho obediente com certeza será um espelho para àqueles que estão debaixo do jugo do pecado e das imposições sociais que estão fora dos princípios cristãos.

Para se ter uma ideia da seriedade com que Deus trata a questão da obediência dos filhos, a penalidade aplicada a um filho desobediente e rebelde na Antiga Aliança, era a morte (Deuteronômio 21:18-21). E se um filho amaldiçoasse ou batesse em seus pais deveria ser morto por apedrejamento (Êxodo 21:15, 17; Levítico 20:9). Se você é filho, agradeça a Deus por ter nascido no tempo da Graça.


II – EXISTEM DEVERES PARA OS FILHOS

No entanto, embora não estejamos vivendo a rigidez da Lei com relação à desobediência dos filhos, aprendemos com Paulo que não podemos fazer sempre o que queremos. Nem sempre gostamos do ônus, mas sempre queremos os bônus. Existem deveres dos filhos com relação aos pais. Por mais que os filhos não gostem, é um ensinamento bíblico claro.

Primeiro, é um princípio do Evangelho: “sede obedientes aos pais no Senhor” (6.1). Os filhos devem obedecer aos pais porque são, em primeiro lugar, servos de Cristo. Segundo, o filho deve obedecer aos seus pais: “pois isso é justo” (6.1). Calvino diz que: “O preceito: ‘Honra a teu pai e a tua mãe’, compreende todos os deveres pelos quais a afeição sincera e o respeito dos filhos a seus pais podem ser expressos” (João Calvino – Comentário aos Efésios. p. 179). Lembrando-nos que a desobediência é um sinal de uma sociedade decadente. Terceiro, porque está de acordo com a vontade de Deus expressa na Lei: “este é o primeiro mandamento com promessa” (6,2-3). Quarto, quem honra pai e mãe tem a promessa de longevidade: para que tudo te corra bem e tenhas longa vida sobre a terra". (6.3).

O termo que Paulo usa em Efésios para “filhos” é “tekna”, plural de “teknon”. Fala do descendente imediato sem especificar sexo ou idade. Aparece cinco vezes nesta carta, mas só em somente em 6.4 sugere criança ou adolescente. No entanto, pode se referir a filhos em qualquer idade. Em suma, pessoas que deve assumir a responsabilidade diante de Deus e de Sua Palavra (Ef 6.1). Pela graça de Deus um filho pode, auxiliado pelo Espírito Santo, ser exemplo de obediência em qualquer família.


III – FILHOS, HONRAI!

A honra para com os pais é um mandamento. Não é uma concessão. É dever dos filhos honrarem seus pais. O apóstolo Paulo escreveu: "Honra a teu pai e a tua mãe (que é o primeiro mandamento com promessa), para que te vá bem, e sejas de longa vida sobre a terra" (Efésios 6:2-3). Mas, o que significa honrar aos pais? A palavra grega “honrar”, significa valorizar ou considerar altamente, ter em grande estima. Alguém pode obedecer sem ter os pais em grande estima, ou apenas para obter alguma vantagem. Os pais erram e nem sempre são dignos de serem honrados. Mas, para o filho da Aliança isso é o de menos. Ele honra aos pais independente dos erros destes. Honrando aos pais eles estarão horando a Deus. Os filhos honram a seus pais, nas coisas simples do dia-a-dia, como ajudar nas tarefas do lar, por exemplo. Mas também nas coisas mais complexas, como ser o cuidador dos pais quanto estes estiverem mais velhos conforme nos diz Provérbios 23.22: “Ouve a teu pai, que te gerou e não desprezes a tua mãe, quando vier a envelhecer". Ou seja, a honra deve ser por toda a vida. Como disse, só há um limite nessa obediência: se os pais quererem coisas que desagradam a Deus. Daí o filho não é obrigado a obedecer por causa da autoridade maior sobre eles.

Honrar também significa ajudar financeiramente, conforme nos diz o apóstolo Paulo, usando a palavra honra num sentido financeiro: Trate adequadamente as viúvas que são realmente necessitadas. Mas se uma viúva tem filhos ou netos, que estes aprendam primeiramente a colocar a sua religião em prática, cuidando de sua própria família e retribuindo o bem recebido de seus pais e avós, pois isso agrada a Deus”. E o verso 8 ainda diz:  Se alguém não cuida de seus parentes, e especialmente dos de sua própria família, negou a fé e é pior que um descrente”. (1 Timóteo 5:3-4, 8).

O texto de Efésios é muito importante para uma vida de obediência: “Filhos, obedecei a vossos pais no Senhor, pois isto é justo" (Efésios 6.1). Como já falei a obediência tem uma razão: “É justo”. Nunca esqueça disso. Paulo na epístola aos colossenses vai dizer: "Filhos, em tudo obedecei a vossos pais, pois fazê-lo é grato diante do Senhor" (Colossenses 3:20). E Salomão em provérbios exorta: "Filho meu, ouve o ensino do teu pai e não deixes a instrução de tua mãe. Porque serão diadema de graça para a tua cabeça e colares, para o teu pescoço" (Provérbios 1:8-9). O que nos chama a atenção é que a obediência tem que partir também de uma consciência dos filhos com relação aos pais, mas também dos pais com relação aos filhos. É uma via de mão dupla. Não se obedece apenas por obrigação ou imposição. Ela vem por ter a consciência do Evangelho e do Deus a quem servirmos. Ou seja, os filhos também têm vontades que precisam ser reconhecidas. E os pais também devem proporcionar um ambiente de amor e carinho. Não os provocando à ira.

Por fim, na explicação da pergunta 54 do catecismo menor de Westminster, “Que exige o quinto mandamento?”, o autor (não identificado) diz o seguinte:

O quinto mandamento exige a conservação da honra e o desempenho dos deveres pertencentes a cada um em suas diferentes condições e relações, como superiores, inferiores ou iguais” (Ef 5.21,22; 6.1, 5, 9; Rm 13. 1; 12. 10). Pais, no entendimento escriturístico e em consonância com a cultura de Israel, não são exclusivamente os genitores, mas todos os que exercem algum tipo de autoridade sobre a nova geração, especialmente a moral e a espiritual. Governar, no sistema patriarcal e em regime teocrático, significava exercer o poder paternal e sacerdotal sobre o clã. Foi, certamente, firmados em tal princípio que os teólogos de Westminster ampliaram o conceito de paternidade para que sua abrangência incluísse quaisquer autoridades superiores, por natureza, por vocação e por ofício, aos comandados. O governo ditatorial é incompatível com o patriarcal; o primeiro é imposto, o segundo emerge com a família, o clã medular, fonte de origem, base preservadora e força mantenedora da tribo. O chefe de estado e seus ministros, administradores da “família Dei”, todos os ancestrais, sacerdotes, líderes tribais e familiares eram considerados pais por ordenação divina e, como tais, respeitados, acatados e estimados.

Já o catecismo de Heidelberg traz a seguinte resposta para a pergunta 104, “o que Deus exige no quinto mandamento”? E a resposta é a seguinte:

R. Devo prestar toda honra, amor e fidelidade a meu pai e a minha mãe e a todos os meus superiores; devo submeter-me à sua boa instrução e disciplina com a devida obediência (1), e também ter paciência com seus defeitos (2); porque Deus nos quer governar pelas mãos deles (3). (1) Êx 21.17; Pv 1.8; 4.1; 15.20; 20.20; Rm 13.1; Ef 5.22; 6.1-2, 5; Cl 3.18, 20, 22. (2) Pv 23.22; 1Pe 2.18. (3) Mt 22.21; Rm 13.2, 4; Ef 6.4; Cl 3.20.


Ou seja, além da obediência os filhos também têm que ter paciência para com os defeitos dos pais. Nenhum pai é perfeito, mas suas imperfeições não podem ser desculpa para a desobediência. Por fim, Jesus é o nosso grande exemplo de obediência. Ainda que fosse o Verbo encarnado Ele foi submisso a seus pais humanos. Ele os honrou em todas as formas (Lucas 2.51). E uma das grandes verdades é que um filho que obedece, honra a seus pais, tendo Jesus como modelo principal, têm vidas mais felizes e, o mais importante, estão agradando a Deus!


Pr. Antônio Pereira Jr.
(1ª Igreja Congregacional em Guarabira – PB).
E-mail: oapologista@yahoo.com.br

sexta-feira, 8 de abril de 2016



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terça-feira, 26 de janeiro de 2016

A ROUPA NOVA DO IMPERADOR E AS IGREJAS



A ROUPA NOVA DO IMPERADOR E AS IGREJAS



“Coisa espantosa e horrenda se anda fazendo na terra: os profetas profetizam falsamente, e os sacerdotes dominam de mãos dadas com eles; e é o que deseja o meu povo. Porém, que fareis quando estas coisas chegarem ao seu fim?” Jeremias 5.30-31. (grifo nosso) Leia ainda Jeremias 23.9-33; 28.1-4; Ezequiel 13 e 14.


Você já ouviu falar de Hans Christian Andersen (1805 – 1875), autor de inúmeros contos infanto-juvenis? Não? Ele escreveu “A Roupa Nova do Imperador”, você lembra dessa história? Não? Tudo bem, eu sei que faz tempo que você deixou de ler histórias infantis. Vou tentar refrescar a sua memória. A história é mais ou menos esta: 

Há muitos anos havia um Imperador que era apaixonado por roupas novas e gastava todo o dinheiro que possuía com elas. Tinha um traje para cada hora do dia. Certo dia, chegaram em sua província dois vigaristas. Fingiram-se de tecelões e disseram que possuíam um tecido especial. Esse tecido possuía a qualidade de ser invisível a todos que não seriam capazes de exercer as suas funções. Como também, distinguia os tolos dos inteligentes. Logo, o imperador entregou-lhes muitas sedas e ouro para a confecção do traje. Os vigaristas guardavam todo o material e sempre pediam mais ao monarca. No entanto, nem um só fio era colocado no tear, embora eles fingissem continuar trabalhando apressadamente. O Imperador mandou súditos para examinarem a roupa, e ele, embora não vendo nada, temiam relatar o que estava acontecendo, para não serem tachados de tolos e incapaz de exercerem as suas funções. Sempre diziam: “Que traje maravilhoso, é de uma beleza fenomenal”. Quando ficou pronta o imperador foi participar de um cortejo onde queria exibir sua mais nova roupa – já que em toda a província a fama do suposto tecido havia se espalhado. De repente, alguém grita: “O imperador está sem roupa”! Houve o maior frisson no império. Só aí o monarca percebeu o quão tolo havia sido. 

Mas o que isso tem a ver com a igreja brasileira? Há muito que aprender com esse conto. Muitas das inovações no seio da eclesiologia brasileira não passam de histórias fantasiosas. Seria até cômica se não fossem trágicas. Há muitas heresias e “espiritualismo” travestido de roupa nova. Vigaristas da fé estão espalhados aos borbotões. Pessoas, até mesmo sinceras, dizem estar vendo algo que não existe. Prega-se uma “espiritualidade sensitiva”, onde o sentir é mais importante que o saber. Isso é espantoso, é horrendo. Jó disse: “bem sei eu que tudo podes, e que nenhum dos teus propósitos pode ser impedido. – 42.2. Bem sei (hb yada‘), ou seja, conhecer por experiência, perceber, ver, descobrir e discernir. Infelizmente, os cristãos, hoje, não querem saber, querem sentir. Muitos, a semelhança dos súditos, continuam dizendo: “Que traje maravilhoso, é de uma beleza fenomenal”. O povo quer espetáculo? Vamos dá espetáculo! Como nos diria Jeremias: “... profetizam falsamente”. Prometem o que não podem cumprir. 

Precisamos usar de honestidade ministerial. As tentações para transformar o nosso culto em “roupas novas” são muitas. Afinal, “... é o que deseja o meu povo”; diz o Senhor. Precisamos parar de ver espiritualidade onde, na realidade, só há carnalidade e culto narcisista. Homens pavoneando-se e recebendo a glória humana não faltam por aí. Deus é o único que merece toda a nossa honra, glória, louvor e adoração. 

Quando Ele mandar, falemos, mas, se não mandar, é melhor ficar calado, pois seria muito perigoso desobedecer ao Senhor. Lembrem-se, somos embaixadores e como tal não podemos falar o que não nos foi ordenado – 2Co 5.20. Prefiro ser sincero com Deus e com as pessoas ao invés de “ver” o que os “sábios” e “inteligentes” querem. Não proclamemos o que Deus não mandou. “Disse-lhes Jesus: Se fôsseis cegos, não teríeis pecado; mas como agora dizeis: Vemos; por isso o vosso pecado permanece”. – Jo 9.41. Leia a Palavra de Deus e não fique por aí procurando “ver” o que não existe. “Conhecereis a Verdade e a Verdade vos libertará”, disse Jesus em João 8.32. Finalmente, o Senhor nos alerta: “... que fareis quando estas coisas chegarem ao seu fim?” Sola Gratia!


Pr. Antônio Pereira Jr.

E-mail: oapologista@yahoo.com.br

quarta-feira, 23 de dezembro de 2015

ENTÃO, É NATAL?

ENTÃO, É NATAL?



O Natal é uma época mágica. Na infância, ficávamos ansiosos para montar a árvore com os enfeites, bolas coloridas, embrulhar os presentes, ligar o pisca-pisca, enfim, um momento único que eu desejava que durasse para sempre. Isso é o que os filósofos chamam de felicidade: um momento que gostaríamos que durasse eternamente. Falava-se do “espírito” natalino que invadira o coração dos homens. A bondade era a principal nota tocada. Quando pensamos em Natal, as primeiras imagens que chegam a nossa mente é a da árvore de Natal cheia de enfeites com presentes maravilhosos, uma ceia farta esperando para ser religiosamente devorada, e a figura comercial do Papai Noel.
Então, é Natal?
Pensamos na bela decoração, nos belos hinos entoados nas grandes catedrais. Corais impecavelmente ensaiados com vozes perfeitamente divididas (Quando Jesus nasceu teve coral – dos anjos –, miríades do coral celestial, saudando ao Rei dos reis e Senhor dos senhores). Contudo, esse Natal aparente não é o verdadeiro Natal. O personagem principal do verdadeiro Natal não é Noel, ele não é, e nunca foi, o personagem principal do Natal verdadeiro. É Jesus de Nazaré, o único aniversariante que não foi convidado para a sua festa. Sim, porque a palavra Natal significa simplesmente “aniversário”.
O que é, de fato, o Natal? Natal é a encarnação da misericórdia. Aliás, misericórdia vem de duas palavras latinas “misere” e “cordia” (de onde vem a palavra coração) significando o seguinte: ter misericórdia é sentir a miséria do outro em seu coração. Na antiguidade significava o punhal que os cavaleiros traziam do lado direito e com que matavam o adversário derribado, a menos que este pedisse misericórdia. Foi isto que Deus fez em Cristo. Sentiu a nossa miséria em Seu coração, a ponto de enviar Seu próprio filho para morrer por nossos pecados. Pois, ele: “foi traspassado pelas nossas transgressões e moído pelas nossas iniquidades; o castigo que nos traz a paz estava sobre ele, e pelas suas pisaduras fomos sarados” (Isaías 53.5).
Então, é Natal?
Natal é tempo da Graça de Deus derramada em nosso favor na “plenitude dos tempos”. O nosso Salvador, o nosso Redentor, o nosso Senhor nasceu. Hosana no mais alto dos céus. Deus se fez carne e visitou com misericórdia a terríveis pecadores como eu e você. Glória a Deus por isso. É tempo de sentir a miséria dos outros em nossos corações, assim como Jesus, e por isso, o Natal verdadeiro dura o ano inteiro, não é apenas a festa de dezembro.
Então, é Natal?
Natal é tempo de ação. Já dizia a música de Lennon: “Então é Natal, e o que você fez”? Cumpriu suas promessas feitas no começo do ano? Realizou os desejos idealizados no réveillon? O Natal só será Natal, de fato, quando nós, a Igreja do aniversariante, deixar de ser mesquinha e dividir o pão; quando valorizarmos mais as pessoas do que as coisas; quando deixarmos o amor falar mais alto do que o dinheiro; quando o templo do Espírito Santo for mais importante do que o templo de tijolos. Quando formos mais parecidos com Jesus... então, será Natal...
Será Natal, quando o Rei disser: “Vinde, benditos de meu Pai! Entrai na posse do reino que vos está preparado desde a fundação do mundo. Porque tive fome, e me destes de comer; tive sede, e me destes de beber; era forasteiro, e me hospedastes; estava nu, e me vestistes; enfermo, e me visitastes; preso, e fostes ver-me. Então, perguntarão os justos: Senhor, quando foi que te vimos com fome e te demos de comer? Ou com sede e te demos de beber? E quando te vimos forasteiro e te hospedamos? Ou nu e te vestimos? E quando te vimos enfermo ou preso e te fomos visitar? O Rei, respondendo, lhes dirá: Em verdade vos afirmo que, sempre que o fizestes a um destes meus pequeninos irmãos, a mim o fizestes”.
Um fato interessante do natal de Jesus é que não havia lugar para Ele na estalagem, mas, hoje, há lugar para Cristo em teu coração? No teu lar? No teu casamento? Na tua Igreja?
Então... é Natal?


Pr. Antônio Pereira Jr.
(1ª Igreja Congregacional em Guarabira – PB).
E-mail: oapologista@yahoo.com.br



domingo, 23 de agosto de 2015

AVIVAMENTO OU AVILTAMENTO?




 AVIVAMENTO OU AVILTAMENTO?


Estas duas palavras são parecidas, porém, divergentes. Temos visto que, na igreja hodierna, elas misturam-se na mente do povo de Deus. Infelizmente, muitos não conseguem distinguir uma da outra. Deixe-me dar a definição de ambas.

John Stott define avivamento ou reavivamento como: “... uma visitação inteiramente sobrenatural do Espírito soberano de Deus, pela qual uma comunidade inteira toma consciência de Sua santa presença e é surpreendida por ela. Os inconversos se convencem do pecado, arrependem-se e clamam a Deus por misericórdia, geralmente em números enormes e sem qualquer intervenção humana. Os desviados são restaurados. Os indecisos são revigorados. E todo o povo de Deus, inundado de um profundo senso de majestade divina, manifesta em suas vidas o multifacetado fruto do Espírito, dedicando-se às boas obras” (A verdade do Evangelho, p. 119).

Creio que Deus pode, e frequentemente o faz, operar um grande reavivamento em nossos dias para reavivar a igreja que está dia-a-dia descendo ladeira abaixo empurrada pelo vento do modernismo, da falta de firmeza doutrinária, da escassez de uma santidade impactuante e não legalista. E que isso, na realidade, é necessário e urgente. A igreja precisa de reavivamento e reforma doutrinária. Não obstante, muito do que se vê por ai não passa de descarado aviltamento.

Já a palavra “aviltamento” significa: vileza, desonra, ignomínia, descrédito, vergonha. A maioria dos “avivamentos” que existem por ai não passa de aviltamento. Verdadeira vergonha de um pseudo-evangelho, uma pseudo-salvação. Verdadeira infâmia contra a santidade de nosso Deus maravilhoso.

Vários períodos da história da Igreja pós-apostólica foram marcados por reavivamentos maravilhosos, onde Deus usou soberanamente homens falíveis para uma proclamação das verdades de um Deus infalível. Por exemplo: A Reforma Protestante (John Wycliffe, Lutero, Calvino, Knox), Reavivamento Morávio (conde Zinzendorf), o Grande Reavivamento do séc. XVIII (John Wesley, Charles Wesley e Jorge Whitefield), Reavivamento Americano de 1725 e 1760 (Teodoro Fredinghuysen e Jônatas Edwards), só para citar alguns.

Todos os despertamentos históricos foram marcados em contraposição por desvios e abusos que tentaram passar por avivamento, mas que nada mais eram que aviltamento. Gostaria de falar, em breves palavras, sobre o que NÃO é reavivamento espiritual:

1. Reavivamento não é simplesmente agendar programações, promover campanha evangelística, retiros, etc. O Espírito Santo de Deus age como Ele quer e não segundo as nossas concepções e agendamentos humanos. “O vento assopra onde quer, e ouves a sua voz, mas não sabes de onde vem, nem para onde vai...” (João 3:8 a).

2. Reavivamento não é assistir “Louvorzão”. Realizar encontros de jovens e reuniões de avivamento. Não é animação no culto. Participar de uma “coreografia santa” não é reavivamento. Pessoas podem dar amém na hora certa, levantar as mãos para o céu, chorar, cair, mas essas coisas não querem dizer que haja verdadeiramente um mover do Espírito.

3. Reavivamento não é linguajar religioso. “Tome posse da bênção”; “Eu decreto”; “Ta amarrado”. São essas as frases, dentre tantas outras, que os cristãos brasileiros estão usando como mantras espirituais dentro das igrejas. O linguajar tem que ser este. Quem não anda por essa cartilha é taxado de cru. Isto é inconcebível.

4. Reavivamento não é praticar um “pentecostalismo descompromissado”. Em Mt 7. 22 – 23 está uma advertência séria com relação a práticas tão populares hoje. Veja o texto: “Muitos me dirão naquele dia: Senhor, Senhor, não profetizamos nós em teu nome? E em teu nome não expulsamos demônios? E em teu nome não fizemos muitas maravilhas? E então lhes direi abertamente: Nunca vos conheci; apartai-vos de mim, vós que praticais a iniqüidade”. Veja que “igreja” maravilhosa. Existia profecia: “não profetizamos nós em teu nome?”. Existia exorcismo: “não expulsamos demônios?”. Existiam curas e milagres: “não fizemos muitas maravilhas?”. Contudo, Deus os reprovou! A advertência é séria: “Nunca vos conheci”. Em outras palavras: “Vocês não são dos meus”. O problema é que essas pessoas irão descobrir isso muito tarde. Espero que você não seja uma delas.

5. Reavivamento não é mudar os costumes. – Mt 23. O próprio texto de Mateus 23 é contundente. Fala por si. “Então falou Jesus à multidão, e aos seus discípulos, dizendo: Na cadeira de Moisés estão assentados os escribas e fariseus. Todas as coisas, pois, que vos disserem que observeis, observai-as e fazei-as; mas não procedais em conformidade com as suas obras, porque dizem e não fazem; Pois atam fardos pesados e difíceis de suportar, e os põem aos ombros dos homens; eles, porém, nem com o dedo querem movê-los; E fazem todas as obras a fim de serem vistos pelos homens; pois trazem largos filactérios, e alargam as franjas das suas vestes, e amam os primeiros lugares nas ceias e as primeiras cadeiras nas sinagogas, e as saudações nas praças, e o serem chamados pelos homens; Rabi, Rabi. Vós, porém, não queirais ser chamados Rabi, porque um só é o vosso Mestre, a saber, o Cristo, e todos vós sois irmãos. E a ninguém na terra chameis vosso pai, porque um só é o vosso Pai, o qual está nos céus. Nem vos chameis mestres, porque um só é o vosso Mestre, que é o Cristo. O maior dentre vós será vosso servo. E o que a si mesmo se exaltar será humilhado; e o que a si mesmo se humilhar será exaltado”. (v. 1-12). Conheço várias pessoas que poderiam encaixar-se perfeitamente nessas advertências. Lembrem-se: “Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas!”

6. Reavivamento não é mudar de teologia. As pessoas mudam de doutrinas como se muda de roupa. Não existem raízes. São como uma folha seca levada pelo vento. Basta surgir um propagador de bênçãos e ele estará lá. Não se questiona nada, o importante é sentir. Chamo isso de “sensitividade herética”. Charles Spurgeon já advertia a igreja a mais de cem anos atrás: “As pessoas dirão: ‘Gostamos desta forma de doutrina e gostamos também da outra’. Mas o fato é este: eles gostariam de qualquer coisa, desde que um enganador esperto lhes apresentasse isso de uma maneira aceitável. Eles admiram Moisés e Arão, mas não diriam uma palavra contra Janes e Jambres. Não devemos ser cúmplices daqueles que visam criar esta mentalidade. Temos de pregar o evangelho de modo tão distinto que o nosso povo saiba aquilo que estamos pregando. ‘Se a trombeta der som incerto, quem se preparará para a batalha?’ (1Co 14.8). Tenho ouvido dizer que uma raposa, que é perseguida muito de perto pelos cães, finge ser um deles e corre com eles. É isso que alguns estão desejando agora: que as raposas pareçam cães. Existem pregadores dos quais é difícil dizer se são cães ou raposas; contudo os homens não podem ter dúvidas sobre as coisas que ensinamos ou cremos”. – Charles Spurgeon. (1834 – 1892)

Spurgeon também dizia: “Nada há de novo na teologia. Exceto o que é errado”. Ou seja, a teologia bíblica é aquela pregada por Paulo, Pedro, João etc. São as “velhas doutrinas” que fazem bem a alma e salva o pecador.

7. Reavivamento não é algazarra eclesiástica. O que temos visto em muitos arraiais não passa de algazarra eclesiástica. Há muito pulo, gritos, meneios, mas pouca santidade prática. Pouco compromisso com a obra de Deus. Quase nenhuma intenção de evangelizar os povos que ainda não ouviram o evangelho de Cristo. Ninguém quer sair de suas cadeiras confortáveis para lugares inóspitos.

Isso me lembra uma velha fábula: “Era uma vez quatro pessoas que se chamavam "Todomundo", "Alguém", "Qualquerum" e "Ninguém". Havia um importante trabalho a ser feito e "Todomundo" acreditava que "Alguém" iria executá-lo. "Qualquerum" poderia fazê-lo, mas "Ninguém" o fez. "Alguém" ficou aborrecido com isso, porque entendia que sua execução era de responsabilidade de "Todomundo". "Todomundo" pensou que "Qualquerum" poderia executá-lo, mas "Ninguém" imaginou que "Todomundo" não o faria. No final da história; "Todomundo" culpou "Alguém" quando “Ninguém", fez o que "Qualquerum" poderia ter feito”. Pense nisso quando tiveres que fazer algo na Obra de Deus.

8. Reavivamento não é crescimento do número de membros. Penso que um dos maiores problemas da igreja nesses últimos tempos é o inchamento de livros de registro de membros. Pelo simples fato de que, na grande maioria das vezes, colocam-se pessoas no rol de membros da Igreja local, quando ela não pertence à Igreja Universal de Cristo. Hoje, mais do que nunca, as igrejas estão cheias de pessoas não convertidas, o que gera uma igreja cancerosa, morta, inoperante. Que Deus tenha misericórdia de nós.

AFINAL, O QUE CARACTERIZA O VERDADEIRO REAVIVAMENTO?

Algumas marcas podem ser detectadas nos verdadeiros reavivamentos trazidos por Deus através da história. Além das características que John Stott nos apresenta em sua definição acima, gostaria de traçar alguns breves e limitados pontos no que concerne ao verdadeiro reavivamento:

1) O verdadeiro reavivamento traz toda honra a Deus. A figura humana não aparece, Deus é que é admirado. Os holofotes estão em Deus, em Sua pessoa, Seu caráter, Sua santidade, Seu poder, Sua honra e Sua glória. O arbítrio humano dá lugar à soberania divina. O homem reconhece que não passa de “um caco de barro no meio de outros cacos” – Isaías 45:9

Edwards disse que: “nenhum avivamento ou experiência religiosa é genuína se não realçar esse Deus sublime em sua soberania, graça e amor”. Ele advertiu contra dois grandes erros no avivamento. Primeiro, o mero emocionalismo. Segundo é dar ênfase não a Deus, mas às respostas humanas. O reavivamento que não se preocupa com a glória suprema de Deus não é reavivamento é aviltamento.

Alguns líderes quando estão falando de Deus, geralmente procuram incutir na mente das pessoas aquilo que Deus jamais diria. Eles dizem: “Deus vai fazer isso amanhã”; “No próximo culto Deus vai operar e vai batizar, curar, etc”; “Vamos fazer uma semana de reavivamento e vocês irão ver Deus fazendo maravilhas”.

Não estou dizendo que Deus não pode fazer, Ele faz o que quiser e não pede licença ao homem. O que estou dizendo é que Deus não trabalha de acordo com a agenda humana. Lamento informar, mas Deus não nos deu a Sua agenda de amanhã, muito menos da semana que vem.

2) O verdadeiro reavivamento expõe as verdades antigas do evangelho. Avivamento sem retorno às verdades da Palavra de Deus não passa de aviltamento. Charles Spurgeon certa vez disse o seguinte: “Nada há de novo na teologia, exceto o que é errado”. Não há avivamento sem o desejo por entender e estudas a Palavra.

3) O verdadeiro reavivamento leva os cristãos à profunda santidade. Consequentemente a Igreja cresce em quantidade e qualidade. A primeira não fica em detrimento a segunda. É verdadeira mudança no comportamento.

4) O verdadeiro reavivamento traz abertura, convicção, quebrantamento, confissão e arrependimento do pecado. É descoberta toda podridão do coração depravado do homem, ele sente a nojeira do pecado e é levado a refugiar-se na graça de Cristo.

Grande parte dos cristãos de hoje não sabem nada sobre o pesar do coração em contrição à santidade de Deus. Os puritanos falavam de “agonizar

“Sonda-me, ó Deus, e conhece o meu coração: prova-me e conhece os meus pensamentos; vê se há em mim algum caminho mau, e guia-me pelo caminho eterno. Salmo” – 139:23,24.

5) O verdadeiro reavivamento traz uma nova vida à ação missionária da Igreja. Reacende a chama por missões. O amor ao perdido é reanimado pela ação irresistível do Espírito Santo. Traz mudança na sociedade em que a Igreja está inserida.

Amados, tenhamos cuidado para não querermos “produzir reavivamento” no intuito de agradar aos homens, granjear ovações e considerações que não servem para nada, senão, para acariciamento do ego e inchamento da nossa natureza carnal. Lembrem-se: “... uma visitação inteiramente sobrenatural do Espírito soberano de Deus”.

Nenhum homem pode “produzir” reavivamento. Todo “reavivamento” produzido pelo homem é, sem sombra de dúvidas, aviltamento. Espero que você tenha sido abençoado por estas breves considerações.

Vigiemos para que nosso “avivamento” não se torne em aviltamento a Deus, a quem devemos dar toda honra, toda glória e todo louvor. Como nos diria João Batista: “Importa que Ele cresça e que eu diminua” – João 3:30


Clamemos como o salmista: “Porventura, não tornarás a vivificar-nos, para que em ti se regozije o teu povo?” – Salmo 85.6.